O Papa Leão XIV manteve um encontro com os agentes da comunicação no dia 12 de maio ado e apontou para a necessidade de desarmar as palavras para desarmar a terra. A humanidade carece de uma comunicação que partilha uma visão diferente do mundo e um agir que seja coerente com a nossa dignidade humana. 43212q
O diagnóstico que sentimos ao longo dos últimos anos nos apresenta um campo de disputa de narrativas onde o que tem mais peso não parece ser a verdade dos fatos. As próprias narrativas estão permeadas de preconceitos, de rancor, de fanatismo religioso e político e muito ódio. A falta com a verdade sob a forma de fake News corrompe os corações de todos nós. As redes sociais se transformam na batalha mais aguerrida e destruidora de relações.
Além desse cenário aterrorizante, temos ainda outro grande desafio, que é o compromisso com a verdade. Vivemos numa Torre de Babel de grande confusão de linguagens sem amor, ideológicas e tendenciosas. Então, o Papa aponta o grande desafio de se promover uma comunicação capaz de nos tirar desse lamaçal que parece uma verdadeira Torre de Babel.
Em razão desse cenário quase catastrófico, o papel da comunicação hoje é um verdadeiro “serviço à verdade”. Diz-se que vivemos um tempo de “pós-verdade”, contudo o caminho para a paz implica em desarmar as palavras, a começar pelas palavras de cada um de nós. Diz uma música do Padre Zezinho: palavra não foi feita para dividir ninguém, pois é uma ponte onde o amor vai e vem. Palavra é feita para dialogar e unir.
O Papa Leão XIV nos apresenta o desafio de se criar uma cultura, de ambientes humanos e digitais que sejam espaços de diálogo e discussão. O primeiro o para a criação dessa cultura está no propósito de se colocar na posição de escuta. É preciso que comecemos a escutar o outro de maneira atenta, sentindo o outro dentro da gente. A escuta é o primeiro o da paz nas relações.
Por fim, sua proposta é que iniciemos com a mudança na nossa forma de nos comunicar no dia a dia, que é de fundamental importância. E nos diz: “devemos dizer ‘não’ à guerra das palavras e das imagens; devemos rejeitar o paradigma da guerra”. Sabemos como um mundo polarizado em cada cantinho de nossa existência alimenta todo tipo de guerra. Um cuidado especial deveria ser com o campo das relações entre as redes sociais. Essa terra sem dono é um campo fértil para o crescimento dos sentimentos mais perversos existentes na humanidade.
A construção da paz em nosso meio não se faz apenas no processo de desarmar nossas palavras. A paz desarmada é apenas uma face do processo. É preciso que cada um de nós lute para desarmar as narrativas, as palavras, os processos de comunicação presentes nas mídias sociais. Por isso, é uma paz desarmante. Um mundo mais sadio é constituído pela paz em nossos lares, em nossas instituições, em nossas formas de comunicação, em nossos corações.
O Papa Leão XIV conclui o seu discurso reforçando que os agentes de comunicação estão na linha de frente, “narrando conflitos e esperanças, situações de injustiça, de pobreza”. E lhes pede para que “escolham, de forma consciente e corajosa, o caminho da comunicação da paz”.
Edebrande Cavalieri